quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Apenas um disparo.


Apenas um disparo. Apenas um.
No meio de tantos gritos, de tanta raiva, de tanta dor.
Seria esta a morte de Quincas?
Seria este o fim de uma trajetória inteira?

Ele não respira mais.
Simplesmente, não respira.
Seu corpo está cansado.
E sua alma, estaria em paz?

Ela está exausta.
Exausta de tudo que vê a sua volta, de tudo que sente.
De não achar o que procura
E ser perseguida pelo que mais odeia.

Levou um tiro no peito
Quando estava saindo de mais um rotineiro dia de trabalho
Ia pra casa, levar o salário para as compras do mês da família.
Mas agora, não tinha mais dinheiro, não tinha mais família.



Era apenas mais uma notícia do jornal da manhã seguinte.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Casamento - A Visão de um Homem - por uma mulher.


Eram 6 da manhã quando o despertador começou a tocar com aquele barulhinho infernal como quem avisa “saia da cama quentinha e vá se fuder com seu chefe o resto do dia”. E assim fiz. Levantei pronto para começar minha vidinha monótona costumeira. Fui até a cozinha, coloquei a frigideira já com o óleo de ontem no fogão de duas bocas que ganhei da minha mãe, peguei os restos de comida que tinham na minha geladeira, coloquei tudo e pronto. Aquela gororoba era aquilo que eu chamava de “omelete”. E, em um breve momento de calmaria e felicidade me alimentei, pensando o quanto queria ter cinco anos de novo.
De repente, meu telefone começa a tocar. Fiquei um pouco desesperado. Ninguém liga na casa de outra pessoa às 6 da manhã a não ser para avisar que alguém morreu. Agoniado, fui atender ao telefone.
- E ai Cara já ta pronto? – disse a voz do outro lado.
- Pronto? – retruquei.
- É mano, pro seu grande dia – e nessa hora reconhecia voz, era de um amigo meu de infância, o Luiz – Com o Luiz eu tinha estórias particulares. Era com ele que pulava a cerca do muro do sítio do vizinho para roubar manga, que me fingia de doente pra ganhar beijinho das gostosas mais velhas do colégio, que pegava as respostas da prova de física, enfim, coisas de um moleque endiabrado – mas eu não tinha entendido ainda o que ele havia me dito no telefone.
- Como assim cara? – respondi.
- Como assim digo eu! Pro seu casamento porra! – ele falou rindo.
Casamento? Ele falou casamento? Meu Deus. Ele falou casamento mesmo. Como eu pude esquecer? Hoje é sábado. Porque eu coloquei essa roupa do trabalho?
- É cara, tava brincando, claro que eu sei que meu casamento hoje. Ao meio-dia te encontro lá na Igreja.
É claro que eu não tava brincando. Eu tinha esquecido que ia casar. Mas também, essa foi uma idéia da mãe da Camila, só pode ter sido, porque agente já parecia que era casado mesmo. Ela dormia aqui todos os dias, a hora que não estávamos no trabalho, estávamos juntos, enfim. Casamento. Coisa de mulher isso né. Você paga uma nota pra Deus pra casar na casa dele e pegar um de seus servos emprestados por uma hora e para dizer “Agora pode beijar a noiva” ou “na saúde ou na tristeza”. Paga uma grana fudida pra sua futura esposa estar linda para você com um vestido branco brega que você consegue imaginar sua avó dentro dele. Enfim, coisa de mulher mesmo.
Fui tomar um banho, me arrumar tentando focar na lua-de-mel para não me irritar com as despesas, pensar na surpresa que minha futura mulher me faria usando uma cinta-liga ou alguma daquelas fantasias que eu vivo pedindo para ela vestir e ela nunca quer, ao invés do preço do vestido da vovó. Às 11 e 45, eu estava pronto. Pronto para casar.
Fui até a igreja, encontrei com minha família, a família dela, e com o Luiz, com uma felicidade gigante, que sussurrava no meu ouvido: “Se fodeu em moleque... daqui a pouco não vai mais poder jogar bola com a galera porque vai ta trocando fralda” e deu várias gargalhadas tímidas. Eu não ri. Droga. É verdade. Mas já to aqui mesmo. Já era.
E a orquestra começa a tocar. Todos se levantam e olham pra trás. A noiva vai entrar. Minhas mãos soam. Eu começo a pensar “não foge, não foge” e quando ela entra, fico perplexo. Ela não está parecendo minha avó. Ela tá... Nossa. Eu não sei dizer. Meu deus. Eu quero casar com essa mulher. Porque Eu não consigo falar mais nada.
Ela vem, olha nos meus olhos, dá um sorriso e olhamos para o padre. Eu ainda tô perplexo. “Pode beijar a noiva”. Meu deus eu to casado. Todos os jogos que vou deixar de jogar com meus amigos, as despesas, os chopps, as fraldas. Mas quando eu olhei para ela só saiu uma coisa: Casa comigo de novo?